Carla Maria Bispo Padrel de Oliveira é vice-reitora da Universidade Aberta de Portugal (UAP) e possui vasta experiência na área de Educação a Distância, tendo dedicado anos ao estudo e a atividades no campo. Na vinda ao Brasil, palestrou durante o Encontro Anual de Tutores da SEDIS/UFRN sobre o modelo funcional do programa da UAP e o sistema de tutoria operante no país luso. Conversamos com Carla para saber de suas reflexões acerca da relevância do tutor no processo de ensino-aprendizagem, tanto aqui no Brasil como em Portugal. Confira o interessante bate-papo:
SEDIS Entrevista: Para você, por que é importante fomentar a EaD diante do preconceito que a modalidade sofre em relação à presencial?
Carla Padrel: A Educação a Distância é uma forma educacional prática e flexível que permite às pessoas conseguirem realizar sua formação e capacitação profissional. Em Portugal, neste momento, a atualização do conhecimento é muito importante: as pessoas têm um curso, uma graduação, e depois, ao longo de sua vida e em períodos muito curtos, precisam fazer atualizações e, às vezes, mudar de ramo. O Ensino a Distância permite que, de uma forma mais flexível, as pessoas que já trabalham, que já têm responsabilidades e suas famílias constituídas, possam promover a sua carreira e adquirir novas competências. É verdade que ainda há preconceito contra a modalidade, mas considero que ele exista cada vez menos. As próprias universidades presenciais em Portugal estão desenvolvendo interesse por fazer o Ensino a Distância, porque perceberam que muitos de seus alunos já não conseguem ir à faculdade devido às suas ocupações, e a única forma de estudarem é através da EaD.
Carla Padrel é doutorada em Engenharia Química pelo Imperial College of Science Technology and Medicine da Universidade de Londres e licenciada em Química pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
SE.: No último dia 11 de fevereiro, durante o terceiro dia do Encontro Anual de Tutores da SEDIS/UFRN, você ministrou aos presentes uma palestra sobre o modelo funcional do programa da Universidade Aberta de Portugal. Do que se trata este modelo?
CP.: A Universidade Aberta em Portugal é uma instituição que possui seu próprio corpo docente. No início do modelo funcional da UAP, que existe há 27 anos, fizemos um ensino a distância tradicional, muito baseado em materiais escritos. Hoje, é uma universidade completamente online. O modelo precisa manter essa virtualização de todo o processo de ensino-aprendizagem, que ocorre, exclusivamente, numa plataforma Moodle com diferentes recursos e ferramentas.
SE.: Como funciona o sistema de tutoria em Portugal?
CP.: O sistema de tutoria em Portugal possui tutores que dão apoio às disciplinas de cursos a distância e que têm formação científica nas áreas destas disciplinas. Atualmente, a UAP tem 147 professores e um grupo de cerca de 350 tutores, com formação em cursos de EaD e selecionados conforme as necessidades das disciplinas. Este sistema agrega tutores de diferentes cidades em Portugal e profissionais de outras áreas, que possuem, no mínimo, um mestrado científico nas áreas em que prestam apoio.
SE.: Que diferenças você percebe entre os sistemas de tutoria em Portugal e no Brasil?
CP.: O tutor a distância brasileiro e o português são muito parecidos, diante do que eu pude perceber do sistema de tutoria operante no Brasil. Entretanto, além de os dois sistemas divergirem no tocante à existência do tutor presencial – na UAP não temos esse ator no processo –, existe a diferença de que, em Portugal, o corpo docente pertence à Universidade Aberta, enquanto que, no Brasil, os professores não pertencem à UAB, mas sim a universidades e instituições que a integram.
SE.: Para você, qual a importância do tutor no processo de ensino-aprendizagem do aluno EaD?
CP.: O papel do tutor é fundamental, já que é um facilitador da aprendizagem. Apesar da responsabilidade da disciplina ser do professor, é o tutor quem prepara os materiais, as avaliações, realiza todas as atividades formativas e faz, enfim, todo o acompanhamento do aluno EaD. E, da mesma forma em que os docentes da universidade são avaliados, os tutores também recebem, ao final do semestre e por parte dos professores e dos alunos, uma avaliação de seu desempenho na tutoria. Se o tutor não obtiver um bom resultado nesta avaliação, ele estará suscetível à dispensa ou a um novo curso de formação para promover suas competências.
Texto: Natália Noronha. Foto: Emerson Moares.
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