Entrevista com a Magna. Reitora da UFRN, profa. Ângela Paiva, acerca dos
novos desafios da gestão universitária envolvendo as políticas e ações
em EaD
Ângela Maria Paiva Cruz é licenciada e bacharel em Matemática
pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), mestre em
Filosofia na área de Lógica pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e
doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte
(UFRN). Atualmente, está no segundo mandato como Reitora da UFRN.
Confira, a seguir, sua entrevista para o SEDIS Entrevista sobre Educação
a Distância.
Ângela Paiva, Reitora da UFRN. Foto: Bethowen Padilha.
SEDIS ENTREVISTA: Como a Educação a Distância vem colaborando com a
expansão e a busca pela excelência da graduação e da pós-graduação na
UFRN?
Ângela Paiva: A UFRN, durante os seus 57 anos, sempre teve como
missão produzir conhecimento e disseminá-lo em favor da cidadania plena e
do desenvolvimento do estado
e da região. Neste sentido, sempre se buscou tecnologias novas que
favorecessem a democratização do acesso ao Ensino Superior e também uma
expansão física com a presença maior da universidade no interior. Dessa
forma, em 2003, na gestão do professor Ivonildo Rêgo, foi elaborada a
proposta da criação da Secretaria de Educação a Distância da UFRN,
criando polos da própria universidade e através de parcerias com
municípios. Naquele momento, havia dez polos e três cursos de
licenciatura. Nesses 12 anos, a UFRN vem colaborando com a melhoria da
Educação Básica, já que pelo menos 50% das vagas são sempre destinados a
professores da rede pública de ensino, seja municipal ou estadual. O
que nós vemos hoje é que a modalidade a distância é essencial para a
democratização do ensino, de modo que, ao longo do tempo, nós evoluímos:
hoje estamos com 22 polos e mais de 10 cursos, incluindo as
licenciaturas, que são nove, um bacharelado, um tecnólogo, quatro
especializações, aperfeiçoamentos e os mestrados profissionais de Letras
e Matemática. É uma evolução bastante significativa e uma contribuição
que estamos dando paulatinamente e com todo o rigor e qualidade, no
mesmo nível que exigimos dos cursos presenciais.
SE: Nós sabemos que uma das características da EaD é o forte uso das
Tecnologias de Informação e Comunicação, as TIC. De que maneira a SEDIS
contribui com a universidade nesse sentido?
AP: A SEDIS está cumprindo com a sua missão, dando uma excelente
contribuição para a universidade. Em 2007, quando estávamos pensando o
REUNI, o Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades
Federais, nós observamos que a produção de material didático e as novas
tecnologias eram requeridas pelas várias unidades acadêmicas da
instituição. Deste modo, nós colocamos dentro do REUNI a reestruturação
da SEDIS, para que ela se transformasse numa central de produção de
material didático. Outros setores da universidade também fazem isso, mas
este é um dos itens da missão da secretaria, não apenas para os cursos a
distância, que requerem materiais específicos, mas também para projetos
das TIC, nos quais a SEDIS tem sido uma parceira importante,
propositora e coordenadora. O papel da SEDIS está sendo fundamental
junto à Pró-Reitoria de Graduação para que tornemos efetivos os pelo
menos 20% dos cursos presenciais que podem ser trabalhados com as
tecnologias a distância. Este é um processo em que estamos trabalhando
junto com a PROGRAD: todo curso que colocar no seu projeto pedagógico
que esses 20% podem ser trabalhados é favorecido pela universidade
através da SEDIS com a produção de material e a criação de ambientes de
aprendizagem que façam com que essa modalidade se insira também no
ensino presencial. É importante frisar que a SEDIS não contribui apenas
para a universidade. Durante a Copa do Mundo de 2014, nós entramos em
parceria com a Universidade de Brasília, criando uma plataforma que
serviu de capacitação para os estudantes e os voluntários do Brasil.
Temos sido demandados também pelo Ministério da Saúde, depois da nossa
adesão à Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS). A SEDIS é um vetor que
congrega e atrai para si, porque muito do que está se fazendo para a
capacitação dos servidores do SUS, que são milhares no Brasil todo,
demanda ferramentas da modalidade EaD. Dessa forma, estamos também
nesses projetos produzindo materiais e tecnologias de comunicação.
SE: Quais são as perspectivas para os próximos quatro anos da Educação a Distância na UFRN?
AP: Todos sabem que o Plano Nacional de Educação (PNE) contém metas
muito arrojadas em relação à expansão do Ensino Superior. Há metas que
estabelecem, por exemplo, que pelo menos 33% dos jovens de 18 a 24 anos
devem ter direito a uma matrícula no Ensino Superior. Há também metas
para a pós-graduação, para que os professores das universidades e das
instituições de Ensino Superior e da Educação Básica tenham
pós-graduação num certo percentual. É exigido para os professores, assim
como para os gestores da Educação Básica, que eles tenham uma
qualificação de graduação e de formação continuada. Esses são elementos
essenciais para a melhoria da Educação Básica. Os mestrados
profissionais, em Letras e em Matemática, nos quais já estamos
trabalhando ofertas de vagas junto a alguns polos, são uma tendência que
vai crescer. Vamos iniciar agora, por exemplo, o mestrado profissional
em História e em Geografia, que possui polo aqui e em Caicó, da mesma
forma com História, em Natal e em Caicó. Estaremos com essas modalidades
semipresenciais ou a distância, e a tendência dessa formação
continuada, no futuro, para que contribuamos de modo significativo para o
alcance das metas do PNE, é que a modalidade a distância seja
fortalecida e demandada pelo MEC em relação às universidades.
O Ministro Renato Janine e a Associação Nacional dos Dirigentes das
Instituições Federais de Ensino Superior (ANDIFES) têm colocado, no
documento que chamamos de PDU, o Plano de Desenvolvimento das
Universidades, a Educação a Distância como uma das prioridades para a
expansão no Brasil nos próximos 10 anos. A nossa secretaria está
devidamente preparada e bem estruturada; evidentemente que, à medida
que
a gente trabalha mais, requisita mais infraestrutura, equipamentos e
tecnologias novas para que se dê uma resposta qualificada. Assim, a
tendência para o futuro é fortalecer, do ponto de vista da própria UFRN,
trabalhar a sua vida natural, o que a gente chama de
institucionalização. Nesse sentido, os professores da UFRN que trabalham
com a EaD estão lotados, fazem ensino, pesquisa e extensão, assim como
os outros professores fazem. Os direitos dos nossos estudantes que são
dos cursos a distância são os mesmos, participam dos programas
igualmente aos nossos alunos dos cursos presenciais, inclusive no que
diz respeito aos programas de internacionalização, como o Ciência Sem
Fronteiras. Estamos buscando os direitos iguais para os professores e os
estudantes; este é um movimento interno, de fortalecimento da
modalidade a distância. Certamente, nos próximos 10 anos, acompanhando o
PNE, não devemos cessar esforços para ampliar as condições de acesso e
de permanência no Ensino Superior. A Educação a Distância está como
prioridade, não só na UFRN, mas no Governo Federal.
SE: Na sua opinião, qual é o futuro da EaD dentro das instituições públicas de ensino?
AP: Um futuro em que a gente vai trabalhar. A UFRN está buscando e
construindo os elementos para isso, para o alcance da qualidade. Em
algumas áreas há uma crítica e um certo preconceito com a Educação a
Distância, como se fosse um curso menor, de valor menor, mas nós, a
CAPES e o MEC, estamos trabalhando pelas condições de qualidade. Este é o
foco: a busca da excelência, não apenas dos cursos presenciais, mas
também dos cursos a distância. A confiança da CAPES em promover os
mestrados profissionais a distância é uma demonstração de que a
exigência que se faz com os cursos presenciais é feita também com os
cursos a distância. A busca da excelência é o nosso caminho para a EaD,
assim como para a modalidade presencial. Eu gostaria de registrar,
inclusive, que a UFRN possui dois cursos com nota máxima – os demais
estão trabalhando para isso, mas a Licenciatura em Química e a
Licenciatura em Letras obtiveram conceito 5. Este é o nosso caminho:
trabalhar pela qualidade acadêmica e o fortalecimento do uso dessas
tecnologias das quais a EaD se vale para melhorar e qualificar os cursos
presenciais.
Entrevista: Natália Noronha, Analista de Mídias Sociais.
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